03/05/2010
Farra na bomba de gasolina

O deputado estadual que mais gastou com gasolina entre os 77 parlamentares mineiros, Doutor Rinaldo Valério (PSL) apresentou notas de um posto cujo dono jura nunca ter abastecido carros a serviço do deputado. Conseguir uma nota com valor mais alto é fácil. Quem dá a dica são os prestadores de serviço do deputado Antônio Genaro (PSC). Na quarta matéria da série Notas Frias S/A, o Estado de Minas conta estes e outros episódios de abuso na indenização a despesas de combustível na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Entre julho de 2009 e janeiro deste ano, o deputado Doutor Rinaldo (PSL) apresentou notas referentes a um gasto de R$ 37,5 mil com gasolina em oito postos, o maior valor entre todos os parlamentares. As despesas mais altas teriam ocorrido nos postos Vem Car (R$ 15,6 mil), em Divinópolis, base eleitoral do deputado, e no Javari (R$ 10,3 mil), no Bairro Cachoeirinha, em Belo Horizonte. O posto de Divinópolis confirma manter uma conta do parlamentar. O mesmo não ocorre no posto da capital.

“Nenhum deputado abasteceu aqui, não tem nada disso”, afirma Aiála Fernandes, gerente do Javari há um ano. O dono do posto, Dico Lima, também disse não conhecer ninguém relacionado ao gabinete de Rinaldo. “Nota tirada aqui no posto? Não, só tiro o cupom fiscal na máquina, não faço de outra forma. Nem conheço este cara”, disse o empresário, que trabalha no mesmo endereço há 35 anos. “O sistema tem o dia todo para tirar uma nota. Se eu vender R$ 10 mil, alguém pode tirar a nota em qualquer valor dentro desta margem do dia. Um funcionário pode ter passado nota pra alguém, é a única possibilidade”, disse Lima.

Procurado pelo EM, Doutor Rinaldo afirmou que seu motorista abastece o veículo, por isso não conhece todos os postos onde tem despesas. “Meus assessores cuidam disso, não acredito que tenha alguma coisa errada. Na verdade, a gente gasta mais combustível do que a Assembleia ressarce”, disse o deputado, que mora no Bairro Floresta e não tem escritório político na Cachoeirinha.

NOTA

No Posto Cássia, na Avenida Francisco Sá, no Prado, em BH, a nota fiscal vem no valor que o deputado pedir e quem conta são os próprios administradores. Sem saber que eram gravados, eles disseram como tiram notas para o deputado Antônio Genaro. “Às vezes precisa de uma folga lá (na ALMG), né? Para acertar as contas…”, disse André Barreto, um dos sócios do posto. “Quando o deputado está precisando de uma notinha maior, a gente tira. Não afeta muito não”, continuou.

Entre julho do ano passado e janeiro, Genaro apresentou seis notas do Posto Cássia, que totalizam R$ 29,2 mil. Os donos do posto falaram que seu gasto médio varia entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil. A menor nota apresentada por Genaro, em janeiro, foi de R$ 4,7 mil. As duas maiores, ambas de R$ 5,1 mil, foram apresentadas em setembro e outubro. O chefe de gabinete do deputado informou que ele desconhece qualquer episódio que envolva superfaturamento de notas. Confirmou que os carros são abastecidos no Posto Cássia, mas negou haver irregularidades.

Se as notas fiscais apresentadas pelo deputado Chico Uejo (PSB) para justificar despesas com combustível estiverem corretas, o parlamentar mantém um estranho hábito: os carros são abastecidos de dois em dois. No período analisado, por 21 vezes a prática se repetiu, com notas seriadas de R$ 100 e R$ 80, no Posto Dario Luiz Pretti, no Bairro Santo Agostinho, em BH. O mesmo ocorreu com o deputado Getúlio Neiva (PMDB). Das 114 notas do Auto Posto Expresso apresentadas pelo parlamentar, 61 estão seriadas, de duas em duas, ou de três em três. Os dois deputados foram procurados na tarde de terça-feira, mas não atenderam às ligações.

Fonte: Estado de Minas, Publicado em 21 de abril de 2010

VBC Automação - Todos os Direitos Reservados - Resolução mínima 1024x768